COLETIVO NACIONAL DA DIVERSIDADE SEXUAL - CUT NACIONAL
CARTA ABERTA SOBRE PLANO NACIONAL DE COMBATE A HOMOFOBIA NAS
ESCOLAS
O Coletivo Nacional da
Diversidade Sexual, vem manifestar-se em relação à
polêmica e ao posicionamento do Governo em relação ao “Plano de Combate à
homofobia nas Escolas”.
Ao escolher Dilma Rousseff como
candidata nas últimas eleições presidenciais, o movimento sindical e os demais
segmentos dos movimentos sociais definiam que o desejo era de continuidade de
um modelo de Estado justo, democrático, inclusivo e participativo.
Mostramos que queríamos
prosseguir com políticas públicas que prezassem pelo combate à discriminação e
ao preconceito, temas que avançaram bastante em oito anos de governo Lula. Para
Lébicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
transexuais (LGBT), isso ocorreu por meio de
ações como o Programa de Combate à Discriminação e à Violência Sexual contra
LGBT, o Brasil Sem Homofobia e, principalmente, a I Conferência Nacional LGBT,
em 2008, fundamental para ampliar o diálogo com a sociedade brasileira.
Em 2009, o Plano Nacional de
Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT apontou 51 diretrizes que
devem ser transformadas em políticas de Estado , entre
elas, a legalização do direito de adoção por parte dos casais que vivem em
parceria homoafetiva, recentemente reconhecida de
forma unânime pelo Superior Tribunal Federal.
Porém, se em alguns campos
conseguimos importantes avanços, em outros convivemos com retrocessos como a
interrupção do Programa Nacional do Combate à Homofobia nas Escolas por parte
do governo federal, justamente de uma frente onde mais esperamos o
enfrentamento à discriminação.
É fato que o melhor antídoto
contra o preconceito é a educação e nesse processo as escolas exercessem papel
fundamental, conforme comprovou estudo da Fundação Perseu Abramo,
em parceria com a Fundação Rosa Luxemburo Stiffung (RLS). O levantamento pesquisou 150 municípios em
todas as regiões do Brasil e mostrou que metade dos brasileiros que nunca
freqüentou a escola assume comportamentos homofóbicos, enquanto apenas um entre
dez que ingressaram no ensino superior adotam a mesma postura.
A decisão contribui para que o
Brasil continue desrespeitando dois pontos fundamentais da Constituição de
1988: a igualdade de direitos para cidadãos e cidadãs brasileiras e a laicidade
do Estado, já que a suspensão ocorreu após o pedido de representantes
parlamentares da bancada evangélica.
O problema é ainda mais grave se
consideramos que o material apresentado pelo grupo não foi aquele que o
Ministério da Educação distribuiria às salas de aula do ensino médio, mas sim
peças do Ministério da Saúde para prevenção à AIDS.
Nessa história, fica clara a
força das frentes mais conservadoras, o que cobra de nós ainda mais
mobilização, inclusive porque temos outro grande desafio a seguir, a aprovação
do Projeto de Lei (PLC) 122/2006, que criminaliza a homofobia.
É fundamental ressaltar que o
combate à homofobia não é exclusivo de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis e
Transexuais, mas do Brasil como um todo, da mesma forma que a luta para superar
o machismo e o racismo. Portanto, o engajamento de trabalhadores e
trabalhadoras de todos os ramos da CUT nessa frente é uma questão de respeito
aos princípios que sempre nortearam a atuação da nossa central.
Acreditamos que o combate ao
preconceito passa pelo acesso à informação, fato que motivou a construção
pioneira de uma cartilha LGBT da CUT, lançada em 2008 e que terá sua segunda
edição em breve. O mesmo princípio faz com que cobremos da presidenta Dilma a
retomada do Programa de Combate à Homofobia na Escola e o cumprimento de seu
compromisso com a luta pela igualdade no Brasil.
Este
coletivo, ao ser instituído em nosso último CONCUT (Congresso da CUT), teve
como objetivo a premissa da busca de um trabalho intenso junto aos
trabalhadores e trabalhadoras, aos empregadores(as) e
também na atuação junto as políticas públicas no combate a discriminação por
orientação sexual e identidade de gênero que historicamente tem sido fator de
discriminação, exclusão e não raramente, violências no ambiente de trabalho.
Gays, Lésbicas, bissexuais,
travestis e transexuais durante décadas, ficaram na invisibilidade, começamos a
“sair do armário” nas quase duas décadas que nos antecederam. Começamos a
mostrar não somente nossa cara, como nossa capacidade intelectual, braçal, de
produtividade e competitividade. Não é de se ignorar nosso sistema capitalista,
onde dentro de todas as suas mazelas, a disputa dentro deste mercado, muitas
vezes se faz através do preconceito e da eliminação daqueles que são ditos como
“diferentes”, e muito marcadamente os trabalhadores e trabalhadoras LGBT. Gays
e Lésbicas tiveram sua inserção no mercado de trabalho historicamente através
da “invisibilidade”, começamos a sair deste limbo aos poucos na últi ma década e meia, mas há ainda uma parcela considerada
com total exclusão deste mercado que são as travestis e transexuais, estas por
apresentarem no “visual” a “marca” de sua identidade expressa, faz com que empregadores(as) resvalam na mais cruel das incompreensões
da liberdade do ser humano. “A de ser o que se é”, e dentro de uma lógica não
racional, a excluem praticamente de qualquer forma de trabalho.
E como se muda esta realidade,
não há outra forma se não através da “educação”. Como já disse Paulo Freire:
“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na
ação-reflexão”.
Somos a favor da mudança de
valores, de hábitos, de conceitos e preconceitos, e a mudança se faz através da política, e de políticas públicas. Os
valores morais são subjetivos e estão num contexto social em sua maioria de
forma arraigada, mas as políticas públicas tem que
refletir a cidadania, o respeito às diferenças e à equidade social. Se não for
assim ela é excludente e sectária, feita “para poucos”.
Dentro deste prisma, um
governante não deve se dobrar aqueles que não almejam uma sociedade inclusiva,
de objetivos comuns ao bem estar, ao respeito e a igualdade social.
E aqui entramos diretamente no
Plano de Combate à Homofobia na Escola, erroneamente chamado de ”Kit Gay”, pois
tentam aglutinar de forma pejorativa toda uma política consistente de trabalho
sério e criterioso no combate à homofobia no ambiente escolar.
A evasão
escolar, a violência, o bulling homofóbico praticado
por uma não aceitação ao “diferente”, deve ser sim combatido. É papel do poder público adequar suas políticas visando a
eliminação das formas de preconceito e exclusão na escola. O MEC vem
construindo ao longo de quase seis anos o Plano de Combate a Homofobia, não
pode simplesmente ser desconsiderado. Usar de “mentiras” como as que se
divulgaram nos últimos dias por setores conservadores, não deve ser aceito como
chantagem ao poder público. Abrir concessões a estas chantagens é abrir mão de
uma sociedade justa, é perpetuar com a violência sofrida por cerca de 20
milhões de brasileiros e brasileiras que nunca tiveram seus direitos consagrados em qualquer
lei deste país. É manter o assassinato de crianças e
adolescentes LGBT, é colocá-los a margem das ruas e ao acréscimo das
estatísticas de violência e mortes que só em 2010 chegou a
casa de 260 assassinatos por homofobia ou exclusão social. A vitória no Supremo
Tribunal Federal não pode ser desconsiderada e sim entendida como lição para
todos os poderes desta nação. Com raras exceções o tema das orientações sexuais
e identidades de gênero foram tratadas no executivo e
ainda sem qualquer apreciação pelo legislativo. Até quando isto perpetuará?
Cobramos a efetivação de uma
política educacional que realmente trate de forma transparente e sem
subterfúgios a questão dos assim chamados temas transversais, assim diz o plano
nacional de educação. Tratar de orientação sexual e identidade de gênero não é
“induzir uma criança a ser ou deixar de ser gay, lésbica, bissexual, travesti
ou transexual”, mas dar a esta criança o valor supremo em uma sociedade que é a
cidadania, isto sim se aprende na escola, com muito diálogo e respeito. É um
direito que tem que ser dado às crianças saberem que existem outras orientações
e identidades, e não somente a heterossexual. Quando a Presidenta diz: “... que
o governo não fará propaganda de “opções sexuais”, a dialética s e faz presente
no contexto da frase, não poderíamos entender como: “... estamos
negando o direito de qualquer criança conhecer outras orientações sexuais”,
pois a bem da verdade, a heterossexualidade é expressada inclusive em salas de
aulas, e então, será proibido.
O Coletivo da Diversidade sexual
da CUT defende que seja efetivado o Plano Nacional de Combate a Homofobia nas
Escolas, assim como em outros ministérios, secretarias e demais órgãos dos
governos Municipais, Estaduais e Federal.
COLETIVO NACIONAL DA DIVERSIDADE SEXUAL - CUT - NACIONAL